Máry M - Miragem

Ao sair da sala de aula sinto o cérebro em papa
Mais um exame, mais uma etapa acabada
Quero ir p'ra casa, mas não vou pelo metro da Baixa
Vou p'ró Terreiro, a ver se até lá o meu corpo relaxa
Perto do Museu do Dinheiro sou abordada por um estranho
Que me elogia enquanto me cede o passeio
Eu agradeço e lembro-me de achar que ele era porreiro
Mas por algum motivo quando eu passei ele também veio
Ele falava e perguntava se eu lhe queria fazer companhia
Eu ignorava e comecei a andar mais rápido a ver se ele se ia
Foi quando ele me puxou p'lo braço e agarrou
Eu tento me soltar, não funcionou
É quando eu grito e esperneio
E o pânico apodera-se do meu peito
Ele diz que se não colaboro o cenário fica feio
E que da próxima vez para eu não me por a jeito
Apressada abro a porta de casa
Atordoada, na garganta tenho mil facas espetadas
Sinto o corpo dormente e fora de mim
Como serei a partir daqui
Parece que flutuo, vejo tudo turvo
Sinto o corpo sujo, enquanto caminho em direção ao duche
Com esperança que esta água lave o corpo e a alma
E calmamente me traga de volta à vida que levava
Enquanto a água esbarra na pele
Vejo flashes da cara dele
E d'umas escadas, d'uma casa
Do medo, de me sentir parada
Estática enquanto ele me tocava, me ameaçava
Que ou me calava ou me matava
Ao sair do banho, aquilo que eu sinto é estranho
Ainda me sinto suja e imunda
É então que a pergunta me inunda
Se não me detenho e se tudo o que eu tenho é este corpo
Será que aquilo que se passou foi minha culpa
Devia ligar a alguém, contar à minha mãe
Mas estou sem forças e nem sei como se verbaliza
Como me exponho a uma coisa que é demasiado íntima
Engulo o pranto enquanto janto em frente a todos
E tento agir normalmente consoante o que é esperado
Quero acabar rapidamente, ir p'ró meu quarto
E quem sabe amanhã tudo já tenha passado
Mas na cama o corpo ainda arde
Se eu tivesse optado ir por outro lado
Se eu não tivesse saído tão tarde
Ou feito algo que o tivesse evitado
Durante a noite acordei várias vezes em sobressalto
Tenho dúvidas se aquilo me aconteceu de facto
Tudo está exatamente igual, no mesmo local
E eu a sentir que a minha vida chegou ao final
Ainda sinto o sabor a nojo
Ainda sinto as mãos dele no meu corpo
Ainda vejo a sua cara de gozo
E ainda me pergunto se depois disto há vida ou morro

Written by:
Mariana Marques

Publisher:
Lyrics © O/B/O DistroKid

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